Um debate que teve tanto de interessante como de estupidamente aberrante...
Há algum tempo, foi noticiado pelos meios de comunicação social o facto de os hipermercados se encontrarem abertos aos domingos. Penso que para muitos, e eu não sou excepção, é uma óptima notícia (apesar de este facto vir prejudicar ainda mais o comércio tradicional; para mais que este factor não irá fazer com que haja mais contratados – os patrões irão manter os mesmos funcionários, pondo-os a trabalhar ainda mais), pois assim há mais um dia na semana em que podemos realizar as nossas compras habituais para, e permitam-me recorrer a esta expressão, "atestar" as nossas despensas. E na minha opinião, será finalmente uma coisa útil de se fazer ao domingo – não querendo com isto ofender aqueles que frequentem assiduamente as missas. Mas tal como introduzi, debati esta questão com outras pessoas, entre os quais posso dizer que alguns são camaradas meus, outros são neo-liberalistas, e outros são de outros partidos que se afirmam de esquerda (e quem sou eu para negá-lo!). Para ser o mais democrático possível (se é que a democracia ainda existe em Portugal), empenhei-me em tentar compreender os pontos de vista que me expuseram e ter muita paciência para explicar os meus pontos de vista, de longe opostos aos dos neo-liberalistas (como era de esperar, muito infelizmente).
Antes de mais, devo explicar a razão do título... pretendi explicar, como se fosse para crianças, um raciocínio que deveria ser lógico para todos. E que é o que a grande maioria do país não percebe, daí que o país se tenha afundado desta maneira: o povo português cheira os populistas quais cães a cheirar a cauda do outro cão que vai à frente e acha naturalíssimo fazê-lo – pensar e reflectir é difícil e cansativo, daí que não esteja para isso. Os três "F" ainda reinam.
Nesse debate, defendi (e defendo) que não discordo, como já referi, de os hipermercados abrirem aos domingos, desde que (o famoso modo condicional, que tanto perturba os capitalistas) os trabalhadores que se encontrarem de serviço nesse dia recebam o seu devido salário. Das partes Socialistas, ouvi concordância. Das partes neo-liberalistas, ouvi perguntarem-me o que é que uma coisa tem a ver com outra... ora bom, quem me conhecer melhor, sabe que não percebo nada de Economia e de números, mas já comecei a perceber que não basta o curso... é necessária a inteligência, a capacidade intelectual, cerebral, para conseguir perceber determinadas ideias. Um dos neo-liberalistas com que falei é formado em Economia, e dirigiu-me a mesma pergunta. E eu fico boquiaberto... tentei explicar, tal como vou fazer novamente e com todo o gosto e prazer para os caros leitores. Vejamos as seguintes perspectivas: em primeiro lugar, para ser possível a abertura seja de que estabelecimento for, são necessários trabalhadores a fim de atender os clientes, de cobrarem os devidos valores nos produtos (celebrando, assim, os diversos contratos de compra e venda), e inclusive para prevenir algum furto ou para controlar o stock dos produtos (ou seja, a quantidade de produtos existentes para vender dentro do armazém, a quantidade de produtos que é necessário encomendar para que os produtos não se encontrem esgotados, entre outros).
Em seguida, apresentei um ponto de vista, que tentei adequar à maioria da mentalidade neo-liberal, e que é a seguinte: além da Bíblia dizer que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo (talvez para admirar a sua obra), é comum a atribuição de pelo menos um dia de descanso por semana aos trabalhadores, nem que seja para que os mais (ou menos) competentes realizem o devido inventariado das receitas e despesas, bem como do supra referido stock. E mais: quando algum estabelecimento determina abrir num feriado, por norma atribui-se um salário melhor remunerado (não sei se ainda é assim...!) aos trabalhadores que aceitarem encontrar-se de serviço nessas datas. A resposta que levei foi a repetição da questão: "mas o que é que isso tem a ver com os hipermercados estarem ou não abertos ao domingo?" Confesso que só me deu vontade de rir de profunda tristeza... uma resposta destas só demonstra o porquê de o país se encontrar como está – e são estes os que aconselham os que nos governam, e/ou aqueles que nos governam ou governarão, uma matilha de espantosa imbecilidade! Como vinha a propósito do tema, aproveitei a referir algo que já tive oportunidade de referir num outro contributo ("Portugal está a afundar-se!", de 7 de Julho), que é o seguinte: na maioria dos hipermercados (não digo que é em todos por desconhecer se assim é), a maior parte dos (senão todos os) produtos vendidos são importados – a título de exemplo, nos hipermercados "Dia% / Minipreço" são maioritariamente espanhóis... aliás, já verifiquei que passou a ser mais chic, agora são «produzidos na UE», afirmação que me leva a perguntar desde quando as fábricas são da UE, e desde quando a UE é mais soberana que um determinado país – ou seja, o imperialismo napoleónico, hitleriano, norte-americano, etc, está de volta e à vista de todos aqueles que o queiram encarar ou combater de frente.
Um pequeno desvio, muito importante: "eu ainda sou do tempo" em que a Constituição da República Portuguesa dizia (e ainda diz – enquanto ninguém alterar este disposto!), no seu artigo 1º, e cito: "Portugal é uma República soberana (...)", e no seu artigo 7º ainda diz que, e cito: "Portugal rege-se nas relações internacionais pelo[s] princípio[s] da independência nacional, (...)" e "Portugal preconiza a abolição do imperialismo, (...)" – já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), afirmou e muito bem, no dia 22 de Julho, que se nos encontramos nesta situação nacional gravíssima, além de outros tantos motivos, um deles é o desrespeito pela Constituição da República Portuguesa – recomendo vivamente a leitura desse texto no site (www.pcp.pt), é extremamente interessante a análise realizada, a qual subscrevo. Este desvio é para dizer o seguinte: Portugal não sairá da banca rota em que se está a meter (ainda não se meteu!!!) enquanto não houver uma ruptura com estas políticas anti-patriotas, neo-liberalistas e capitalistas.
O país precisa de uma ruptura patriótica e de esquerda, para que se tente ressuscitar a produção nacional, para que, com uma nova reforma agrária, se ponha fim à situação precária que vivemos, enfim: para salvar Portugal. Ninguém se apercebe, é certo, mas a obtenção de mais produtos estrangeiros propicia o aumento da dívida pública portuguesa. Inclusive citei, nesse debate, um exemplo: Portugal (principalmente nas zonas algarvias) era um dos melhores (senão o melhor) produtores de conservas (ou enlatados) – atum, sardinha, etc. Com as políticas prosseguidas desde Novembro de 1975 (ou seja, políticas neo-liberalistas e capitalistas), toda essa produção foi destruída – pode-se admirar essas fábricas abandonadas ao longo das costas (uma "linda paisagem", diga-se de passagem – e se for acrescida de uns quantos mendigos, ainda melhor!). Resposta que recebi: "então, se essas fábricas causavam prejuízo concordo plenamente com o seu encerramento, não é a nacionalização delas que vai fazer com que tenha menos prejuízo"; e depois, novamente a pergunta "o que é que isso tem a ver com o facto de os hipermercados estarem abertos aos domingos?". Sinceramente, a dada altura cansei-me – o famoso provérbio "pérolas a porcos" enquadrava perfeitamente esses neo-liberais com quem tive o "privilégio" de conversar; de facto, com cassetes daquelas, não vale a pena tentar corrigir os erros das gravações, coisa que me deixa muito desanimado e pessimista quanto ao futuro do nosso país.
No meu ponto de vista, se as fábricas forem nacionalizadas, cabe não só ao Estado como a quem este deposite as competências para gerir aquelas a procura da eficiência – se há prejuízo, corrige-se esse prejuízo. E esta correcção não implica, de modo algum, o encerramento das fábricas! Pergunto: então com as fábricas fechadas e abandonadas, sem produção nacional alguma, qual é o prejuízo que resulta disto tudo? Será que o prejuízo actual não é muito maior do que aquele que resultava (se é que isso é verdade!) do desenvolvimento da actividade da fábrica, da produção? Aí de certeza que não me respondem, a menos que queiram parecer papagaios (sem ofensa ao animal) a perguntar o que isto tem a ver com o facto de os hipermercados encontrarem-se abertos aos domingos...!
Em jeito de conclusão... tentando ser o mais sintético possível, vou relatar-vos um dos maiores prazeres que tive em toda a minha vida. No dia 18 de Julho, participei numa jornada de trabalho para a construção da Festa do Avante! deste ano. Nesse dia, calhou-nos a seguinte actividade: pegar em ancinhos e fazer montinhos das ervas que haviam sido previamente cortadas à máquina. Trabalhei durante cerca de cinco ou seis horas – não sei quanto tempo demorou a pausa para o almoço, daí criar esta margem de erro – com um calor sufocante, sol abrasador, com três boas bolhas nas mãos como recordação (esqueci-me das luvas...), e uma fortíssima dor de costas nos primeiros dias seguintes. Mas devo gritar: fiquei contentíssimo e satisfeitíssimo. E vou participar noutra(s) jornada(s) de trabalho – já me inscrevi numa outra para já [acrescento hoje, 13 de Agosto de 2010: participei nessa outra jornada, em 07 de Agosto de 2010, na qual ajudei à montagem daquilo que será a banca do "Sai Sempre" na Festa - apesar de ter um boné na cabeça, tive como recordação uma ligeira febre devido a insolação, 37,5º, que curei no próprio dia à custa de remédios], e num dos dias da Festa estarei a trabalhar lá com muito gosto. A dada altura, no decorrer do trabalho, não pude deixar de comentar para um dos meus camaradas: "não sei porquê, mas enquanto estamos aqui a trabalhar não me saem da cabeça uns versos do Ary dos Santos". E depois declamei-os, ainda a trabalhar. São estes:
"Quando a terra for do povo,
o povo deita-lhe a mão.
É isto! É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de nós termos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução."
(in "As portas que Abril abriu")
Nada mais me satisfez tanto como aquelas escassas horas de reforma agrária – o trabalho compensa, o oportunismo não.
E despeço-me, por brevíssimos momentos, com a minha: Portugal tem de revoltar-se contra o oportunismo, o capitalismo e o neo-liberalismo, defendidos pelos populistas PS, PSD/PPD e CDS-PP. Só o esclarecimento e a união das massas poderão trazer um futuro melhor – mesmo que não mostre resultados, como me aconteceu no debate que relatei, vale sempre a pena e deve-se fazê-lo constantemente. Eleitoralmente, tornou-se quase impossível alterar e marcar a diferença – acho que já deu para perceber tal, muito infelizmente. Então faça-se um novo Abril, organizado, que nos traga a reforma agrária, enfim: que nos traga o Socialismo perdido em Novembro de 1975 – e que já virá tarde. Ressuscitemos Portugal!
Há algum tempo, foi noticiado pelos meios de comunicação social o facto de os hipermercados se encontrarem abertos aos domingos. Penso que para muitos, e eu não sou excepção, é uma óptima notícia (apesar de este facto vir prejudicar ainda mais o comércio tradicional; para mais que este factor não irá fazer com que haja mais contratados – os patrões irão manter os mesmos funcionários, pondo-os a trabalhar ainda mais), pois assim há mais um dia na semana em que podemos realizar as nossas compras habituais para, e permitam-me recorrer a esta expressão, "atestar" as nossas despensas. E na minha opinião, será finalmente uma coisa útil de se fazer ao domingo – não querendo com isto ofender aqueles que frequentem assiduamente as missas. Mas tal como introduzi, debati esta questão com outras pessoas, entre os quais posso dizer que alguns são camaradas meus, outros são neo-liberalistas, e outros são de outros partidos que se afirmam de esquerda (e quem sou eu para negá-lo!). Para ser o mais democrático possível (se é que a democracia ainda existe em Portugal), empenhei-me em tentar compreender os pontos de vista que me expuseram e ter muita paciência para explicar os meus pontos de vista, de longe opostos aos dos neo-liberalistas (como era de esperar, muito infelizmente).
Antes de mais, devo explicar a razão do título... pretendi explicar, como se fosse para crianças, um raciocínio que deveria ser lógico para todos. E que é o que a grande maioria do país não percebe, daí que o país se tenha afundado desta maneira: o povo português cheira os populistas quais cães a cheirar a cauda do outro cão que vai à frente e acha naturalíssimo fazê-lo – pensar e reflectir é difícil e cansativo, daí que não esteja para isso. Os três "F" ainda reinam.
Nesse debate, defendi (e defendo) que não discordo, como já referi, de os hipermercados abrirem aos domingos, desde que (o famoso modo condicional, que tanto perturba os capitalistas) os trabalhadores que se encontrarem de serviço nesse dia recebam o seu devido salário. Das partes Socialistas, ouvi concordância. Das partes neo-liberalistas, ouvi perguntarem-me o que é que uma coisa tem a ver com outra... ora bom, quem me conhecer melhor, sabe que não percebo nada de Economia e de números, mas já comecei a perceber que não basta o curso... é necessária a inteligência, a capacidade intelectual, cerebral, para conseguir perceber determinadas ideias. Um dos neo-liberalistas com que falei é formado em Economia, e dirigiu-me a mesma pergunta. E eu fico boquiaberto... tentei explicar, tal como vou fazer novamente e com todo o gosto e prazer para os caros leitores. Vejamos as seguintes perspectivas: em primeiro lugar, para ser possível a abertura seja de que estabelecimento for, são necessários trabalhadores a fim de atender os clientes, de cobrarem os devidos valores nos produtos (celebrando, assim, os diversos contratos de compra e venda), e inclusive para prevenir algum furto ou para controlar o stock dos produtos (ou seja, a quantidade de produtos existentes para vender dentro do armazém, a quantidade de produtos que é necessário encomendar para que os produtos não se encontrem esgotados, entre outros).
Em seguida, apresentei um ponto de vista, que tentei adequar à maioria da mentalidade neo-liberal, e que é a seguinte: além da Bíblia dizer que Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo (talvez para admirar a sua obra), é comum a atribuição de pelo menos um dia de descanso por semana aos trabalhadores, nem que seja para que os mais (ou menos) competentes realizem o devido inventariado das receitas e despesas, bem como do supra referido stock. E mais: quando algum estabelecimento determina abrir num feriado, por norma atribui-se um salário melhor remunerado (não sei se ainda é assim...!) aos trabalhadores que aceitarem encontrar-se de serviço nessas datas. A resposta que levei foi a repetição da questão: "mas o que é que isso tem a ver com os hipermercados estarem ou não abertos ao domingo?" Confesso que só me deu vontade de rir de profunda tristeza... uma resposta destas só demonstra o porquê de o país se encontrar como está – e são estes os que aconselham os que nos governam, e/ou aqueles que nos governam ou governarão, uma matilha de espantosa imbecilidade! Como vinha a propósito do tema, aproveitei a referir algo que já tive oportunidade de referir num outro contributo ("Portugal está a afundar-se!", de 7 de Julho), que é o seguinte: na maioria dos hipermercados (não digo que é em todos por desconhecer se assim é), a maior parte dos (senão todos os) produtos vendidos são importados – a título de exemplo, nos hipermercados "Dia% / Minipreço" são maioritariamente espanhóis... aliás, já verifiquei que passou a ser mais chic, agora são «produzidos na UE», afirmação que me leva a perguntar desde quando as fábricas são da UE, e desde quando a UE é mais soberana que um determinado país – ou seja, o imperialismo napoleónico, hitleriano, norte-americano, etc, está de volta e à vista de todos aqueles que o queiram encarar ou combater de frente.
Um pequeno desvio, muito importante: "eu ainda sou do tempo" em que a Constituição da República Portuguesa dizia (e ainda diz – enquanto ninguém alterar este disposto!), no seu artigo 1º, e cito: "Portugal é uma República soberana (...)", e no seu artigo 7º ainda diz que, e cito: "Portugal rege-se nas relações internacionais pelo[s] princípio[s] da independência nacional, (...)" e "Portugal preconiza a abolição do imperialismo, (...)" – já Jerónimo de Sousa, secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), afirmou e muito bem, no dia 22 de Julho, que se nos encontramos nesta situação nacional gravíssima, além de outros tantos motivos, um deles é o desrespeito pela Constituição da República Portuguesa – recomendo vivamente a leitura desse texto no site (www.pcp.pt), é extremamente interessante a análise realizada, a qual subscrevo. Este desvio é para dizer o seguinte: Portugal não sairá da banca rota em que se está a meter (ainda não se meteu!!!) enquanto não houver uma ruptura com estas políticas anti-patriotas, neo-liberalistas e capitalistas.
O país precisa de uma ruptura patriótica e de esquerda, para que se tente ressuscitar a produção nacional, para que, com uma nova reforma agrária, se ponha fim à situação precária que vivemos, enfim: para salvar Portugal. Ninguém se apercebe, é certo, mas a obtenção de mais produtos estrangeiros propicia o aumento da dívida pública portuguesa. Inclusive citei, nesse debate, um exemplo: Portugal (principalmente nas zonas algarvias) era um dos melhores (senão o melhor) produtores de conservas (ou enlatados) – atum, sardinha, etc. Com as políticas prosseguidas desde Novembro de 1975 (ou seja, políticas neo-liberalistas e capitalistas), toda essa produção foi destruída – pode-se admirar essas fábricas abandonadas ao longo das costas (uma "linda paisagem", diga-se de passagem – e se for acrescida de uns quantos mendigos, ainda melhor!). Resposta que recebi: "então, se essas fábricas causavam prejuízo concordo plenamente com o seu encerramento, não é a nacionalização delas que vai fazer com que tenha menos prejuízo"; e depois, novamente a pergunta "o que é que isso tem a ver com o facto de os hipermercados estarem abertos aos domingos?". Sinceramente, a dada altura cansei-me – o famoso provérbio "pérolas a porcos" enquadrava perfeitamente esses neo-liberais com quem tive o "privilégio" de conversar; de facto, com cassetes daquelas, não vale a pena tentar corrigir os erros das gravações, coisa que me deixa muito desanimado e pessimista quanto ao futuro do nosso país.
No meu ponto de vista, se as fábricas forem nacionalizadas, cabe não só ao Estado como a quem este deposite as competências para gerir aquelas a procura da eficiência – se há prejuízo, corrige-se esse prejuízo. E esta correcção não implica, de modo algum, o encerramento das fábricas! Pergunto: então com as fábricas fechadas e abandonadas, sem produção nacional alguma, qual é o prejuízo que resulta disto tudo? Será que o prejuízo actual não é muito maior do que aquele que resultava (se é que isso é verdade!) do desenvolvimento da actividade da fábrica, da produção? Aí de certeza que não me respondem, a menos que queiram parecer papagaios (sem ofensa ao animal) a perguntar o que isto tem a ver com o facto de os hipermercados encontrarem-se abertos aos domingos...!
Em jeito de conclusão... tentando ser o mais sintético possível, vou relatar-vos um dos maiores prazeres que tive em toda a minha vida. No dia 18 de Julho, participei numa jornada de trabalho para a construção da Festa do Avante! deste ano. Nesse dia, calhou-nos a seguinte actividade: pegar em ancinhos e fazer montinhos das ervas que haviam sido previamente cortadas à máquina. Trabalhei durante cerca de cinco ou seis horas – não sei quanto tempo demorou a pausa para o almoço, daí criar esta margem de erro – com um calor sufocante, sol abrasador, com três boas bolhas nas mãos como recordação (esqueci-me das luvas...), e uma fortíssima dor de costas nos primeiros dias seguintes. Mas devo gritar: fiquei contentíssimo e satisfeitíssimo. E vou participar noutra(s) jornada(s) de trabalho – já me inscrevi numa outra para já [acrescento hoje, 13 de Agosto de 2010: participei nessa outra jornada, em 07 de Agosto de 2010, na qual ajudei à montagem daquilo que será a banca do "Sai Sempre" na Festa - apesar de ter um boné na cabeça, tive como recordação uma ligeira febre devido a insolação, 37,5º, que curei no próprio dia à custa de remédios], e num dos dias da Festa estarei a trabalhar lá com muito gosto. A dada altura, no decorrer do trabalho, não pude deixar de comentar para um dos meus camaradas: "não sei porquê, mas enquanto estamos aqui a trabalhar não me saem da cabeça uns versos do Ary dos Santos". E depois declamei-os, ainda a trabalhar. São estes:
"Quando a terra for do povo,
o povo deita-lhe a mão.
É isto! É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de nós termos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução."
(in "As portas que Abril abriu")
Nada mais me satisfez tanto como aquelas escassas horas de reforma agrária – o trabalho compensa, o oportunismo não.
E despeço-me, por brevíssimos momentos, com a minha: Portugal tem de revoltar-se contra o oportunismo, o capitalismo e o neo-liberalismo, defendidos pelos populistas PS, PSD/PPD e CDS-PP. Só o esclarecimento e a união das massas poderão trazer um futuro melhor – mesmo que não mostre resultados, como me aconteceu no debate que relatei, vale sempre a pena e deve-se fazê-lo constantemente. Eleitoralmente, tornou-se quase impossível alterar e marcar a diferença – acho que já deu para perceber tal, muito infelizmente. Então faça-se um novo Abril, organizado, que nos traga a reforma agrária, enfim: que nos traga o Socialismo perdido em Novembro de 1975 – e que já virá tarde. Ressuscitemos Portugal!
Fernando Barbosa Ribeiro
Nota: este texto foi originalmente escrito a 24 de Julho de 2010.
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