"O QUE FAZEMOS POR NÓS PRÓPRIOS MORRE CONNOSCO, MAS O QUE FAZEMOS PELOS OUTROS E PELO MUNDO PERMANECE. E É IMORTAL." (ALBERT PINE)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)
A equipa de "ABYSSUS LUSITANIS - O Abismo de Portugal" apoia e procura auxiliar a divulgação e convidar os nossos leitores a visitar o Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura), em Pinhel (Guarda).

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

VIVA O CHUMBO!




O caro leitor já deve interrogar-se quanto à minha formação e/ou profissão, uma vez que – ultimamente – o cerne das questões por mim levantadas tem sido, reiteradamente, o estado da (Des)Educação em Portugal. Ao mesmo tempo, quase de certeza que me considera “mais um «tudólogo»”, uma vez que falo um pouco sobre quase tudo…
Quanto à segunda questão, sublinhe-se o “quase”: só falo dos assuntos sobre os quais tenho contacto mais ou menos directo – seja analisando a prática através de familiares e/ou amigos, seja através das actividades políticas que tento desenvolver. Logo, se quiserem denominar-me algo, teria de ser “conheçólogo”, pois só falo do que conheço – o que não tenho é a culpa de conhecer tanta coisa, bem como de me interessar por tanta coisa!...
Já a primeira questão: tenho muita família ligada aos mais diversos cargos na área da Educação, e com as mais diversas patentes – desde educadores a professores, de inspectores de ensino a condecorados por realização de grandes (valorosos e valiosos) feitos na Educação em Portugal. E sempre tive uma relação muito próxima com essa família… além de ter, desde tenríssima idade, contacto com a sua prática profissional. Por fim, fui explicador de Português para amigos durante alguns anos.

O presente contributo é, portanto, direccionado para a Educação. Foi hoje notícia, em vários meios (no final, poderá consultar as notícias através dos links partilhados), que as retenções (leia-se: chumbos) dos alunos no ensino básico devem-se aos exames. O leitor riu-se? Eu não: chorei. É oficial a progressiva deseducação nacional!
Comecei por comentar no Facebook – por impulsividade – e continuo aqui. Eis a minha análise, com base na experiência que possuo e a qual explicitei supra:

1)     Quem são os alunos?
O facto de o agregado familiar (por regra, os pais) possuir um nível de escolaridade baixo pode (e sublinhe-se o “pode”) influenciar o (in)sucesso do aluno: a ajudar a estudar, a tirar dúvidas sobre a matéria. Ao mesmo tempo, a própria ausência desse agregado (por motivos profissionais), pois de nada vale ser doutorado se não está em casa ao lado do filho para tirar-lhe a(s) dúvida(s).
Quando será que os pais vão perceber – bem como o (Des)Governo português – que eles são os principais e mais importantes AUXILIARES da sua função? Diz-se que “a educação começa em casa”… não é apenas válido para as boas maneiras, ou o bom comportamento: é também para a aprendizagem das mais diversas áreas/disciplinas! E felizes aqueles que ainda possam contar com avós, ou tios, ou outro qualquer familiar… sendo obrigatório, nesse caso, o regresso à análise da escolaridade dos mesmos.
E há motivos de (mínima que seja) perturbação psicológica? Ou seja, por exemplo: pais divorciados, ou órfão (de algum ou de ambos os progenitores)? Tudo isto influencia directamente. E não é somente ao professor que cabe adequar o ensino àquele caso: reitero, o agregado familiar é o principal, basilar, fundamental, auxiliar do professor.
E incentiva-se o estudo? É visível, aos magotes, a existência de pais que exigem que o aluno não trabalhe e/ou não estude – exactamente no momento e na idade em que são ESPONJAS sedentas de conhecimento e cultura. Repito até me cansar: se o professor trabalha num sentido, e os pais/agregado familiar COMBATEM esse trabalho, então será infrutífero todo e qualquer esforço do professor… e quem as paga é o aluno!!!

2)     Quem são os professores?
Nesta questão, como perceberá agora o caro leitor, não há virgens para ninguém, e muito menos tolero viúvas virgens.
Existem professores que se formaram em "escolas" (Escolas Superiores de Educação, Faculdades, Universidades, Institutos Politécnicos, e mais que exista) onde a realidade prática (através de estágios, ou de iniciação à prática pedagógica...) ficou praticamente desconhecida. Há outros que se formaram com um estágio microscópico. E – aves raríssimas (em vias de extinção?) – há professores que tiveram pelo menos um mês de estágio todos os anos do seu curso (seja ele de quantos anos for).
Porquê tal disparidade? Sou sincero: desconheço por completo.
Haverá falta de uma norma harmonizadora? (ou seja, haverá total liberdade para o estabelecimento desse tempo?) Haverá falta de acordos com as escolas para a colocação dos futuros professores em formação de estágio? Haverá falta de patronos para os estágios (isto é, de quem vigie, acompanhe, e avalie, o estágio)?
No tempo da Escola do Magistério Primário de Lisboa, o rigor da formação dos futuros professores era extremamente duro: exames atrás de exames, estágios atrás de estágios (em escolas que, penso eu e aqueles que me informaram de tal, faziam mesmo parte daquela Escola), Exame de Estado… em suma, e para quem ainda sabe o seu significado: conseguir ser-se bacharel já era motivo de festa! Com o Processo de Bolonha… enfim, o mesmo que para todos os cursos: o desastre total.
Antigamente existia o inspector de ensino… que colocava todos em sentido. Uns eram rigorosos e sérios, outros não. No primeiro caso, arruinavam os maus professores e possibilitavam a “glorificação” dos bons professores – tanto que os inspectores, por regra pelo menos, eram ex-professores convidados/promovidos para o cargo.
E a formação para as necessidades educativas especiais? Citando quem é nacional e oficialmente especialista no assunto, “hoje é tudo disléxico!”, quando muitas vezes o problema foi a metodologia pedagógica – há metodologias e metodologias… umas mais correctas que outras, outras mitigadas (isto é, mistura de características de duas ou mais metodologias), e outras anti-pedagógicas!
Mas para os casos reais de necessidades educativas especiais: onde há formação prática dos profissionais? Conhecem-se os estágios para os mais diversos graus de ensino… e para esta área? Desconheço a sua existência – só conheço os voluntariados, como é o caso da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC).
Por fim, e não menos importante: há vocações, ou seja: há professores que não têm vocação e/ou que não se formaram para o ser… mas são-no para não estarem no desemprego, como alguns quantos engenheiros e formados em Direito (isto é mais visível nos 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário). Não devia existir uma formação para a docência nestes casos – e obrigatória?

3)     Que raio de programa faz o Ministério da (Des)Educação - que é de cumprimento obrigatório?
Os programas do Ministério são vergonhosos, para não dizer inexequíveis! Não têm em conta o tempo, a capacidade de aprender dos alunos, a capacidade de ensinar dos docentes, entre outras tantas coisas! Um exemplo muito simples: já é obrigatório sair do 1.º ciclo (antigo Ensino Primário) a dominar perfeitamente as equações e as fracções (a nível da Matemática), matérias que só eram ensinadas no 2.º ciclo (antigo Ensino Preparatório)!
O encerramento de escolas é pura e simplesmente criminoso. Já o tenho dito, e continuo a dizer – portanto, não re-chateio o caro leitor com os detalhes.
A avaliação dos professores não é a correcta (nem em método, nem em forma)... seria-o a inspecção? Será o exame mas de outra forma e de outro método – uma vez que recorre-se ao exame, por exemplo, para o acesso à profissão de advogado, logo também poderia criar-se um para o professor?
Quanto à sua avaliação em diversas fases do exercício da sua profissão: considero ridículo quanto à forma. Antigamente, os professores eram obrigados a frequentar periodicamente – gratuitamente – formações de actualização promovidas pelo Ministério… e nem por isso eram maus professores! A existir avaliação formal, sugiro que se faça da seguinte forma: regressem as formações – que considero essenciais para preservar a actualização das matérias ensinadas – e gratuitas!, e no final avalie-se a aquisição de conhecimentos dessas formações, também gratuitamente como é óbvio.
OS PROFESSORES NÃO TÊM CULPA DE O SEREM! Nem têm culpa de não existir uma “ordem dos professores”, e de existir um Ministério incompetente!
Por fim, e referindo-me notícia em vídeo: a lotação das salas de aula… para o docente, poderia ser (mas não é!) indiferente ensinar para 20 ou para 40 a mesma coisa ao mesmo tempo e na mesma sala… mas para o aluno, posso garantir por experiência pessoal, nunca é! O professor tem de transformar-se num polvo autêntico para conseguir tirar as dúvidas de todos os alunos, ensinar o que o (maldito) programa exige que se ensine, submeter os alunos à avaliação, etcetera etcetera!!! Seria um bom desafio: a colocação de um professor competente (mas sem ser do Ensino Superior – para isso, já temos um!) no lugar de Ministro da Educação – um que saiba como e o que é “o campo de batalha”…
E muitos mais defeitos provenientes do ME ficam por dizer!

Resumindo e concluindo: o mal não está nos exames!... E muito menos nos “chumbos”, exceptuando talvez para as contas públicas (conforme notícia).

Caro leitor: a universalização do acesso à Educação além da 4.ª classe (actual 4.º ano) foi uma importantíssima conquista de Abril. E esta está a ser assassinada!
A quem julga que cabe defendê-lo e/ou reconquistá-lo?

Fernando Barbosa Ribeiro

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