"O QUE FAZEMOS POR NÓS PRÓPRIOS MORRE CONNOSCO, MAS O QUE FAZEMOS PELOS OUTROS E PELO MUNDO PERMANECE. E É IMORTAL." (ALBERT PINE)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)
A equipa de "ABYSSUS LUSITANIS - O Abismo de Portugal" apoia e procura auxiliar a divulgação e convidar os nossos leitores a visitar o Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura), em Pinhel (Guarda).

sábado, 3 de maio de 2014

UMA MERECIDA (E ATRASADA) HOMENAGEM


Caro leitor, como sabe este espaço de diálogo versa, principalmente, sobre questões políticas e sociológicas nacionais (e, por vezes, internacionais), focando igualmente questões jurídicas e económicas. Sempre, obviamente, com um cheirinho a Abril.
Contudo, não se pode descurar quaisquer questões ligadas à Cultura. E é nesse contexto que deixo este sincero contributo. Antes de mais, tenho que confessar ser “suspeito” neste contributo – correndo o risco de ser parcial – pois há afinidades pessoais… venho homenagear, já tarde (é certo), os meus padrinhos: os pintores Mestre José Manuel Soares e Angela Vimonte (pseudónimo de Angela Soares). Não pretendo, minimamente, descurar qualquer um deles – mas, devido ao assunto em especial que vou tratar nesta (tentativa de) homenagem, focarei principalmente Mestre Soares.
Ele alentejano, ela açoriana. Artistas, permita-me dizê-lo, ímpares. Sendo o Mestre, nacionalmente (e, tanto quanto sei, internacionalmente), reconhecido como o maior pormenorista da Arte portuguesa.

Mestre Soares pintou praticamente toda a vida, e foi aperfeiçoando – nunca se satisfez com o melhor que fez… achando sempre que poderia ser melhor. Foi o padrinho que sempre conheci e conheço. Basta dar um exemplo: um dia, a minha família e os meus padrinhos, fomos passear um pouco na zona da Casa dos Bicos. O Mestre possui quadros únicos, retractando, por exemplo, os arcos da muralha – do Campo das Cebolas, Arco Escuro, entre outros. Contudo, não tendo ficado satisfeito com um detalhe de uma janelinha existente num dos arcos (cujo quadro data de 1972), e encontrando-se (em 2001 ou 2002) novamente diante desse arco, não fez mais: puxou de uma esferográfica, pediu um papelinho (foi-lhe dado um guardanapo, na falta de melhor), “afiou o seu olhar de lince”, e pôs-se a desenhar única e exclusivamente a janelinha ao mais ínfimo detalhe. Não exagero se disser que demorou menos de dez minutos a desenhá-la – como um esboço, naturalmente. E, nessa mesma noite, manifestou o ensejo de pintar novamente esse arco, desta vez com os detalhes da janelinha.

Infelizmente, a sua saúde pregou-as, em 2002. Vítima de doença grave, ficou total e completamente impossibilitado de pintar para o resto da sua vida, desde 08 de Abril de 2002.

Tão “pormenorista” sempre foi, que existe a seguinte história, a qual remonta à sua juventude: pretendia comprar algo (não me recordo o quê), e precisaria de 20 escudos (para quem se lembre, ou quem conheça: uma nota cujo desenho era o Santo António, acastanhada). Bom, que fazer? Simples (mas sem maldade – relembro que foi da sua juventude!): desenhou uma! Acredite-se ou não, enganou o senhor comerciante… mas a história acaba com a devolução do desenho e o pagamento devido do bem (se não me engano, seria um caramelo…), pelo seu pai. O comerciante só percebeu que se tratava de um desenho quando lhe foram pagar o devido e pedir o desenho de volta – quase precisando de uma lupa para conseguir distinguir…

Mas, tentando manter a capacidade de síntese e de imparcialidade: há anos que é manifesto de todos a fundação de um museu para a extensíssima obra do Mestre (bem como de Angela Vimonte)… ninguém queria aceitar. Idanha-A-Nova (que diz respeito a Monsanto) foi a inicial maior negociadora, sem sucesso. Mais tarde, Mêda manifestou interesse – sem sucesso. Agora, está em vista Pinhel. Esperamos, ansiosamente, o sucesso da negociação. De referir e louvar: no site da Rádio Clube de Monsanto, existe um micro-site total e completamente em homenagem a Mestre José Manuel Soares.

E eis a conclusão do exposto, caro leitor: Portugal, desde sempre (veja-se Camões e outros tantos Artistas de todas as formas de Arte em Portugal), só soube valorizar os seus Artistas em situação post-mortem! Abril também trouxe valores para a defesa e preservação da Arte – há que defendê-la!!!
Um desafio que realizo, em nome pessoal: divulgue-se mais e melhor a Arte em Portugal. Através de eventos, exposições, entre outras situações – mas tendencialmente gratuitas, senão mesmo total e completamente gratuitas (que seria o ideal). No caso de Mestre Soares: por iniciativa própria, fez inúmeras exposições em todo o país com acesso gratuito – isto é, com o simples e puro prazer de receber admiradores da sua obra. Concretize-se este valor de Abril de uma vez por todas!

Despeço-me, caro leitor, com esta, que vem completar e complementar a presente sincera (tentativa de) homenagem: "O que fazemos por nós próprios morre connosco, mas o que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece. E é imortal" (Albert Pine). E a Arte é um feito pelo mundo, que merece permanecer e quem a faça permanecer. Agora, tornemo-la imortal!

Fernando Barbosa Ribeiro

Post-Scriptum: consulte os seguintes links da internet, a propósito...



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