"O QUE FAZEMOS POR NÓS PRÓPRIOS MORRE CONNOSCO, MAS O QUE FAZEMOS PELOS OUTROS E PELO MUNDO PERMANECE. E É IMORTAL." (ALBERT PINE)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)

Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura - Pinhel, Guarda)
A equipa de "ABYSSUS LUSITANIS - O Abismo de Portugal" apoia e procura auxiliar a divulgação e convidar os nossos leitores a visitar o Museu José Manuel Soares (Casa da Cultura), em Pinhel (Guarda).

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

MENSAGEM DE ANO NOVO (2015)




Uma vez finalizada a minha dissertação de Mestrado, e encontrando-nos quase no primeiro dia do Ano Novo (2015), após longa ausência, regresso com um contributo para o caro leitor – obviamente, e como é expectável, com (mais) uma mensagem de Ano Novo.

Subscrevendo a mensagem que um amigo me deixou, 2014 foi um ano para enterrar/cremar bem: foi o ano dos abusos e dos extremos de todos os nossos (des)governantes. Inventaram-se impostos e taxas, e ora modificaram-se para pior, ora aumentaram-se, impostos e taxas já existentes. A Constituição da República Portuguesa – para os “amigos”, e com justiça: Lei Fundamental – foi severamente (mais que é costume) violada e agredida.
Por fim – refira-se – o Pinóquio passou definitivamente de moda… pois as políticas levadas pelos mesmos de sempre (isto é, PS, PPD/PSD e CDS-PP), bem como os “novos-políticos” (dos partidos mais recentes e dos partidos já mais-ou-menos históricos mas que nem assento parlamentar possuem), demonstram que há quem consiga ter narizes com quilómetros de extensão. Está a pensar-se fazer uma “ponte dourada” de Lisboa a Lisboa (ou seja, a contornar todo o planeta Terra) com o nariz que for melhor/mais bonito – porque em tamanho variam pouco.

No dia 30 de Dezembro, tratando de assuntos diversos numa Loja do Cidadão, deparei-me com um novo flagelo: os “Novos Bancos” do futuro… nada mais, nada menos, que as novíssimas empresas (portanto, estou a excluir as que possuam já assento no mercado, inclusive em Portugal) fornecedoras de gás natural e/ou electricidade. Aliás, especificamente uma, cujo nome não referirei publicamente para evitar incómodos escusados.
Resultado: caem como chuva as pessoas – na sua maioria, o que é ainda mais grave!, idosas – que se encontram a ser descaradamente assaltadas por essa empresa. O que se passa: para qualquer empresa, existe a leitura presencial dos contadores por um funcionário da empresa em causa… de resto, as leituras são “por estimativa”, ou seja baseiam-se na média de gastos tidos durante algum tempo (não sei precisar quanto é) para cobrar um valor ao cliente. Em alternativa às duas hipóteses apresentadas, temos a leitura conferida via telefónica e/ou deixando um papelinho colado na porta com a leitura escrita pelos clientes.
Pois a empresa em causa insiste em cobrar sempre por estimativas… e mais grave: por estimativas extremamente mais altas que o habitualmente visto. A título de exemplo (de um dos que comigo desabafou – e cuja carta refere, portanto estou 100% seguro de não estar a difamar a empresa!), para um consumo que seria de (aproximadamente) 200€ de gás natural, a empresa cobra (repito: por estimativa elevada) cerca de 350€. Mais grave ainda: é a segunda ou terceira vez consecutiva que o faz! E da primeira, o cliente reclamou presencialmente – e deram-lhe razão, afirmando que o iriam indemnizar por transferência bancária. Resultado: os “correios” devem encontrar-se encerrados, pois a indemnização ainda não chegou.
(Faça-se uma correcção meramente técnica: as pessoas referiam indemnização; não sei o que os funcionários da empresa diziam; mas não se trata, verdadeiramente, de uma indemnização: trata-se, outrossim, de uma devolução do valor cobrado em excesso. Uma indemnização seria, por exemplo, além de devolverem o valor cobrado em excesso, pagarem uma quantia pelos incómodos causados que nada teria a ver com aquele valor – ou seja, extra-valor)

Onde quero chegar, indirectamente: que água-no-bico traz a conversa da “liberalização do mercado” sobre os fornecedores de electricidade e de gás natural? Confesso: desconheço.
Ou melhor, não desconheço: é mais uma forma de capitalizar aquilo que seria – se não fosse o golpe de 25 de Novembro de 1975 – (tendencialmente) gratuito. E que seria, igualmente, do Estado, e não de privados – ou seja, de grandes “barões” dos recursos indispensáveis a qualquer ser humano!

E sem esquecer a (tentativa de) privatização da TAP, dos transportes públicos urbanos, entre outras tantas coisas. Qual a táctica? Simples: tornar os serviços prestados alvo de reclamações (e com justiça), para que se possa dizer que “nas mãos dos privados funcionará melhor”… antes pelo contrário, caro leitor: funcionará bem pior! Exemplo excelente disso, que eu conheça, é a empresa Scotturb (em Cascais), onde os preços são uma exploração nojenta, e os horários e carreiras não servem convenientemente a população. A empresa é de autocarros… e é privada!
Já em Lisboa, a Carris (ainda pública – até ver!) pratica menos de metade dos preços e tem melhores serviços. Excepto num facto, que deve ser apontado: os eléctricos 25 e 28. À noite, quem quiser usufruir de uma dessas carreiras… numa palavra, desencarreira-se! Uma vez que por cada 4 (quatro) eléctricos 25, mais cada 2 (dois) eléctricos 28 com destino à Graça, só 1 (um) eléctrico 28 é que tem por destino o Martim Moniz… e que vem sobrelotado de passageiros (desde a paragem Prazeres, a de início)!!!
O Metro de Lisboa (ainda público – até ver!), na linha verde – só a linha de maior movimento durante todos os dias e a toda e qualquer hora – reduziram o número de carruagens. Resultado: a toda a hora, encontra-se sobrelotado de passageiros!!! O Partido Comunista Português tentou lutar contra isto, e apelou às populações que se juntassem a essa luta (através de uma petição)… resultado: os carneiros andam mal-mortos e a ver/raciocinar MAL, senão a situação não teria chegado onde chegou.
O encerramento de diversos serviços dos Correios (CTT) foi outra grande manobra. Pior: há carteiros com a clara intenção de denegrir o nome dos CTT, fazendo o correio não chegar à população! (resolvi o meu problema, falando pessoalmente com o responsável dos CTT da minha área – que não é o da sede dos CTT onde levanto as minhas encomendas... nem é deixando 28 reclamações no Livro de Reclamações, que eu já havia feito!)

Portanto… agora, a mensagem (em concreto) de Ano Novo que deixo ao caro leitor: mais vale a lágrima da derrota que a vergonha de não lutar. Quem luta nem sempre ganha, mas quem não luta perde sempre.
Faça-se de 2015 um ano de lutas incessantes, até que seja alcançada a vitória dos valores que no 25 de Abril foram colocados como metas a atingir, e que o golpe de 25 de Novembro e subsequentes políticas fascistas até aos nossos dias fazem por destruir diariamente.

Lutemos, por um Portugal melhor!
Votos sinceros de um Ano Novo melhor.

Fernando Barbosa Ribeiro

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Rubra Bandeira - a História (quase ocultada) de Portugal (e do mundo!)



Este texto é “pedido emprestado” à minha amiga e camarada Manuela Galhofo (a autora do mesmo), publicado na rede social Facebook, e que não resisto em partilhar com o caro leitor a propósito das comemorações de algo que também não aconteceu bem como insistem em contar (e mais não digo!) e a propósito da ilegalização constante de Partidos Comunistas no mundo.
No final, deixo-vos a declamação do poema pelo seu autor.

Fernando Barbosa Ribeiro


A BANDEIRA COMUNISTA
[escrito a 17 de Fevereiro de 2011 por Manuela Galhofo no Facebook]

Bandeira Comunista de José Carlos Ary dos Santos

Um dos mais conhecidos poemas de Ary e seguramente dos mais queridos dos militantes do PCP, A Bandeira foi escrito em condições que merecem ser recordadas.

Na segunda-feira, 11 de Agosto de 1975 o Centro de Trabalho do PCP em Braga foi destruído e incendiado após um ataque comandado por um grupo operacional do ELP, como mais tarde veio a ser revelado por numerosas investigações e directamente reconhecido por alguns dos membros do comando directamente envolvidos.

O «Avante!» enviara no fim-de-semana anterior para Braga um seu colaborador fotógrafo, uma vez que corriam insistentes boatos de incidentes em Braga na segunda-feira por (como sucedeu em diversos outros actos terroristas) ser dia de feira. Tendo resolvido pernoitar no Porto, o repórter chegou a Braga a meio da manhã verificando então que os provocadores haviam já desencadeado as agressões e que o Centro de Trabalho (onde se encontravam numerosos militantes) estava já cercado.

Apedrejamentos e tentativas de fogo posto sucederam-se ao longo do dia, tendo – de forma equívoca nunca inteiramente esclarecida – os defensores do Centro acabado por ser retirados por uma força militar que deixou o edifício entregue aos fascistas que completamente o destruíram e incendiaram.

Tomado pelos provocadores como um repórter que lhes era favorável, o fotógrafo do «Avante!» pôde assim obter ao longo do dia as mais extraordinárias imagens da violência fascista à solta, muitas das quais foram publicadas na edição seguinte do «Avante!», a 14 de Agosto.

Para essa mesma quinta-feira, a Direcção da Organização Regional de Lisboa convocara para o hoje Pavilhão Carlos Lopes um comício de solidariedade com os camaradas das organizações atingidas pelo terrorismo e de exigência de medidas de salvaguarda da ordem democrática.

Na redacção do «Avante!» decidimos montar num dos átrios do Pavilhão uma exposição com ampliações das fotos de Braga, de que só uma pequena parte havia sido publicada no jornal. Feitas as ampliações, colocou-se o problema das legendas – que acabou a ser um duplo problema...

A questão era que as imagens tinham uma força tal que qualquer palavra, qualquer frase parecia estar ali a mais. Contudo...

Lembrámo-nos então, telefonou-se ao Zé Carlos para a Espiral, agência de publicidade onde trabalhava, e dissemos-lhe do problema: «Não serias capaz de fazer aí qualquer coisa, uns versos com força, isto não há legendas que resolvam isto...». «Esperem lá um bocado que eu já ligo.»

Meia hora depois o telefone tocava e ouvia-se o vozeirão do outro lado: «Então vejam lá se esta coisa serve.»

Era A Bandeira Comunista. Copiada ao telefone, dactilografada e ampliada, iniciou nessa noite de luta um caminho que não findou jamais.

A bandeira comunista

"Foi como se não bastasse
tudo quanto nos fizeram
como se não lhes chegasse
todo o sangue que beberam
como se o ódio fartasse
apenas os que sofreram
como se a luta de classe
não fosse dos que a moveram.
Foi como se as mãos partidas
ou as unhas arrancadas
fossem outras tantas vidas
outra vez incendiadas.

À voz de anticomunista
o patrão surgiu de novo
e com a miséria à vista
tentou dividir o povo.
E falou à multidão
tal como estava previsto
usando sem ter razão
a falsa ideia de Cristo.

Pois quando o povo é cristão
também luta a nosso lado
nós repartimos o pão
não temos o pão guardado.
Por isso quando os burgueses
nos quiserem destruir
encontram os portugueses
que souberam resistir.

E a cada novo assalto
cada escalada fascista
subirá sempre mais alto
a bandeira comunista."


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Museu José Manuel Soares - FINALMENTE (ALGUMA) JUSTIÇA EM PORTUGAL!!!



Caro leitor, é com fortíssimas emoção e sinceridade que digo: finalmente, (alguma) Justiça neste país!

No passado dia 25 de Agosto, foi inaugurada, em Pinhel (Guarda), a sua Casa da Cultura… que é, simultaneamente, o Museu José Manuel Soares – sobre o qual já leu com certeza neste espaço (ou, pelo menos, o sonho de o ver concretizado).

Para minha enorme infelicidade, não me encontrava no país nessa data, e ainda não consegui deslocar-me ao local para conhecer (ao vivo) o Museu do meu querido e amado Padrinho… na página do Facebook da Câmara Municipal de Pinhel, é possível visualizar diversos vídeos e fotografias sobre esse dia – bem como na minha página facebookiana (como é óbvio). E, pesquisando no Google: “Museu José Manuel Soares”, também é possível encontrar diversas informações e material. Mas deixo (novamente, pois já o fiz nos sites alusivos à Câmara em questão) assumidíssimo o meu compromisso em, imediatamente no dia em que tenha disponibilidade, visitar este Museu.

Vou confessar-me, a si caro leitor: vieram-me as lágrimas aos olhos quando vi todo o material que descobri (e, por isso, divulguei-o supra para o leitor poder dar-lhe uma vista de olhos – merecida!), ao mesmo tempo que recordei os tempos passados com o meu Padrinho. Finalmente Justiça, referi e reitero: pois a sua obra enobrece Portugal!

Para já, apenas um defeito a apontar – o qual tenho a esperança sincera de ver corrigido dentro em breve (e ainda este ano): não existe qualquer referência (horários, convite a visita, breve descrição, alguma imagem alusiva, entre outras coisas) a este Museu (nem à Casa da Cultura de Pinhel em si, que é onde se encontra o Museu) no site oficial da Câmara Municipal de Pinhel… quero acreditar que foi por falta de tempo e/ou de lembrança – o tempo assim dirá. Tenho o fortíssimo desejo de engolir este parágrafo dentro em breve!!! Para já, e para o tentar colmatar, aqui vai:


Para finalizar, deixo aqui publicada a mensagem que dirigi hoje à Câmara Municipal de Pinhel – que foi tão ou mais sentida que todos os contributos que deixei, deixo e deixarei neste espaço de diálogo. Com um convite (e, por favor, não me faça a desfeita caro leitor): visite o Museu José Manuel Soares ainda nesta vida!


«Na qualidade de afilhado dos artistas Mestre José Manuel Soares e Angela Soares (Angela Vimonte de pseudónimo), sou extremamente suspeito para falar... mas, e tentando criar imparcialidade, afirmo: viva Pinhel por fazer Justiça a tamanho Artista, extremo patriota que tanto contribuiu para a Cultura portuguesa. Conheço perfeitamente a sua obra, como é natural - retratou momentos importantíssimos da História de Portugal, bem como daquilo a que pode chamar-se os "pontos de interesse desaparecidos" (à semelhança do título da obra de Marina Tavares Dias «Lisboa Desaparecida») de tantos locais do país como Lisboa, Leiria, diversas terras do Alentejo e da região de Setúbal, Monsanto... as profissões clássicas (como o pescador, as lavadeiras, entre outras)... e a Natureza - aliás, foi nos finais da década de 90 que se dedicou a estudar em pormenor a árvore característica da sua terra-natal - o sobreiro - para vir a torná-la noutro ícone da sua obra artística. Por fim, as ilustrações, as bandas desenhadas - a referente a Camões, por exemplo, que chegou a expor na Fundação Calouste Gulbenkian há algumas décadas (era eu uma criança, mas lembro-me perfeitamente... pois raramente perdia uma sua exposição - de 1990 para cá, pois foi o ano do meu nascimento).

Mais uma vez, a minha saudação de admiração a Pinhel por, finalmente, "alguém" (neste caso, Pinhel) ter tido a coragem de fazer renascer do (quase) esquecimento a obra do Mestre, e de comprometer-se a conservá-la e a mantê-la como o próprio Mestre sempre quis e gostou: disponível para admiração do público, em plena luz do dia, possível de ser apreciada/criticada/admirada por todos os que a queiram ver.

Infelizmente, por não me ter encontrado no país à data da inauguração, não me foi possível (e com enorme e profunda tristeza) comparecer na inauguração do Museu... mas a promessa da minha visita (e de mais visitas) fica assumida - não querendo saber dos quilómetros (de Lisboa a Pinhel) que vou percorrer, pois o "pote de ouro no fim do arco-íris" que será visitar o Museu dedicado a preservar a obra e memória do meu Padrinho vai sempre satisfazer-me e transportar-me para o seu mundo que sempre e tanto admirei.

Saudações sincera e extremamente gratas, Pinhel!»


VIVA PINHEL!

Fernando Barbosa Ribeiro



P.S.: deixei, numa das imagens, um link do Facebook… esse é a fonte das duas imagens que aqui partilho – uma vez que não possuo quaisquer direitos sobre as mesmas (são de um vídeo, adianto desde já).

sábado, 3 de maio de 2014

UMA MERECIDA (E ATRASADA) HOMENAGEM


Caro leitor, como sabe este espaço de diálogo versa, principalmente, sobre questões políticas e sociológicas nacionais (e, por vezes, internacionais), focando igualmente questões jurídicas e económicas. Sempre, obviamente, com um cheirinho a Abril.
Contudo, não se pode descurar quaisquer questões ligadas à Cultura. E é nesse contexto que deixo este sincero contributo. Antes de mais, tenho que confessar ser “suspeito” neste contributo – correndo o risco de ser parcial – pois há afinidades pessoais… venho homenagear, já tarde (é certo), os meus padrinhos: os pintores Mestre José Manuel Soares e Angela Vimonte (pseudónimo de Angela Soares). Não pretendo, minimamente, descurar qualquer um deles – mas, devido ao assunto em especial que vou tratar nesta (tentativa de) homenagem, focarei principalmente Mestre Soares.
Ele alentejano, ela açoriana. Artistas, permita-me dizê-lo, ímpares. Sendo o Mestre, nacionalmente (e, tanto quanto sei, internacionalmente), reconhecido como o maior pormenorista da Arte portuguesa.

Mestre Soares pintou praticamente toda a vida, e foi aperfeiçoando – nunca se satisfez com o melhor que fez… achando sempre que poderia ser melhor. Foi o padrinho que sempre conheci e conheço. Basta dar um exemplo: um dia, a minha família e os meus padrinhos, fomos passear um pouco na zona da Casa dos Bicos. O Mestre possui quadros únicos, retractando, por exemplo, os arcos da muralha – do Campo das Cebolas, Arco Escuro, entre outros. Contudo, não tendo ficado satisfeito com um detalhe de uma janelinha existente num dos arcos (cujo quadro data de 1972), e encontrando-se (em 2001 ou 2002) novamente diante desse arco, não fez mais: puxou de uma esferográfica, pediu um papelinho (foi-lhe dado um guardanapo, na falta de melhor), “afiou o seu olhar de lince”, e pôs-se a desenhar única e exclusivamente a janelinha ao mais ínfimo detalhe. Não exagero se disser que demorou menos de dez minutos a desenhá-la – como um esboço, naturalmente. E, nessa mesma noite, manifestou o ensejo de pintar novamente esse arco, desta vez com os detalhes da janelinha.

Infelizmente, a sua saúde pregou-as, em 2002. Vítima de doença grave, ficou total e completamente impossibilitado de pintar para o resto da sua vida, desde 08 de Abril de 2002.

Tão “pormenorista” sempre foi, que existe a seguinte história, a qual remonta à sua juventude: pretendia comprar algo (não me recordo o quê), e precisaria de 20 escudos (para quem se lembre, ou quem conheça: uma nota cujo desenho era o Santo António, acastanhada). Bom, que fazer? Simples (mas sem maldade – relembro que foi da sua juventude!): desenhou uma! Acredite-se ou não, enganou o senhor comerciante… mas a história acaba com a devolução do desenho e o pagamento devido do bem (se não me engano, seria um caramelo…), pelo seu pai. O comerciante só percebeu que se tratava de um desenho quando lhe foram pagar o devido e pedir o desenho de volta – quase precisando de uma lupa para conseguir distinguir…

Mas, tentando manter a capacidade de síntese e de imparcialidade: há anos que é manifesto de todos a fundação de um museu para a extensíssima obra do Mestre (bem como de Angela Vimonte)… ninguém queria aceitar. Idanha-A-Nova (que diz respeito a Monsanto) foi a inicial maior negociadora, sem sucesso. Mais tarde, Mêda manifestou interesse – sem sucesso. Agora, está em vista Pinhel. Esperamos, ansiosamente, o sucesso da negociação. De referir e louvar: no site da Rádio Clube de Monsanto, existe um micro-site total e completamente em homenagem a Mestre José Manuel Soares.

E eis a conclusão do exposto, caro leitor: Portugal, desde sempre (veja-se Camões e outros tantos Artistas de todas as formas de Arte em Portugal), só soube valorizar os seus Artistas em situação post-mortem! Abril também trouxe valores para a defesa e preservação da Arte – há que defendê-la!!!
Um desafio que realizo, em nome pessoal: divulgue-se mais e melhor a Arte em Portugal. Através de eventos, exposições, entre outras situações – mas tendencialmente gratuitas, senão mesmo total e completamente gratuitas (que seria o ideal). No caso de Mestre Soares: por iniciativa própria, fez inúmeras exposições em todo o país com acesso gratuito – isto é, com o simples e puro prazer de receber admiradores da sua obra. Concretize-se este valor de Abril de uma vez por todas!

Despeço-me, caro leitor, com esta, que vem completar e complementar a presente sincera (tentativa de) homenagem: "O que fazemos por nós próprios morre connosco, mas o que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece. E é imortal" (Albert Pine). E a Arte é um feito pelo mundo, que merece permanecer e quem a faça permanecer. Agora, tornemo-la imortal!

Fernando Barbosa Ribeiro

Post-Scriptum: consulte os seguintes links da internet, a propósito...



Notícia mais recente encontrada on-line: http://www.radiomonsanto.pt/detalhe-noticia.php?id=786

quarta-feira, 30 de abril de 2014

40 ANOS DE ABRIL, 38 ANOS DE (TENTATIVA DE) REGRESSO AO ELITISMO DO ACESSO AO ENSINO


O caro leitor estranhou, e bem. Obviamente que, mais cedo ou mais tarde, iria realizar uma reflexão sobre os saudosos e louváveis 40 anos da Revolução de Abril. Mas, de toda a actualidade, sou obrigado a seleccionar uma. E escolhi, como tema, o estado do Ensino Superior.

Recentemente, saíram inúmeras notícias nos jornais e telejornais sobre a não-acreditação de inúmeros cursos superiores, nomeadamente de Educação Básica, junto, única e exclusivamente, das instituições de Ensino Superior privadas.
Como o caro leitor deve saber, eu sou um forte defensor, tal como a Constituição de 1976, do ensino público, universal e gratuito. Mas isso não implica a minha parcialidade: as verdades são para denunciar os retrocessos das Conquistas de Abril, executados pelas políticas de Direita que (des)governam Portugal desde Novembro de 1975. E mais do que o postulado constitucional, defendo o acesso universal ao Ensino, sem considerar a priori se o mesmo é público ou privado. Por isso, pronuncio-me em defesa desses cursos dessas instituições neste sincero contributo.

A Comissão de Avaliação Externa (também conhecida por CAE), que não é tão "externa" quanto o nome dá a entender – trata-se de um subordinado estatal – reprovou, isto é não acreditou, diversos cursos superiores. O caso mais notório foi o do curso de Educação Básica, daí que me dirija mais a esse contexto. A acrescentar, para que o caro leitor possa compreender melhor: a acreditação rege-se pelos ditames estatais (leis, decretos-lei…), através da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (convenientemente, outra "agência" estatal...).

Basicamente, não foi acreditado (ou seja: não confere qualquer grau após a sua (eventual / se possível) realização; não possui qualquer valor curricular/académico), para o ano lectivo 2014/2015, o curso de Educação Básica de instituições como a Escola Superior de Educadores de Infância Maria Ulrich, a Escola Superior de Educação João de Deus, a Escola Superior de Educação Almeida Garrett, entre outras. Todas elas, privadas. Segundo consta, tal deu-se com o intuito de actualizar, ou modernizar, o ensino de tal curso. Não duvido que essa (boa) intenção seja totalmente falsa, mas não é a única.
Entretanto, algumas instituições já tentaram reformular os currículos dos seus cursos, e, com isto, impugnar/recorrer da decisão de não-acreditação. Escusado será adiantar que continuam não-acreditados. Porquê?

Uns com razão – porque ainda não foi suficiente tal reestruturação. Outros, sem razão… ou talvez não. A intenção é clara: existem demasiados desempregados dotados de curso superior (isto é, licenciados, mestres e/ou doutorados) no país (principalmente e não só, com o curso de Educação Básica). Ora, qual solução será melhor que “acabar com os cursos superiores”, o que impede que mais alguém tire um curso superior, com vista a reduzir tal número num futuro próximo? Ou seja: daqui a alguns anos (por não ser formado em “adivinhologia”, obviamente não posso precisar quantos anos serão; mas, pensando que as licenciaturas em geral possuem uma duração média de 3 anos lectivos – ou 6 semestres – , diria que, daqui a 3 ou 4 anos, o I.N.E. confirmar-nos-á o que vos escrevo aqui), o número de desempregados dotados de grau de Ensino Superior vai “milagrosamente” diminuir! (pudera, ninguém pôde licenciar-se nesse ano… e assim, damos uma alegria aos mercados internacionais e à Troika, à semelhança do "senhor Feliz" e do "senhor Contente"!...)
À semelhança, naturalmente, do que há alguns anos (e que denunciei - tendo o decurso do tempo dado razão à minha denúncia) fizeram em relação aos desempregados quanto ao regime de manutenção da inscrição na qualidade de desempregados e quanto às pseudo-formações promovidas pelo I.E.F.P. - tentando avivar a memória ao caro leitor. (eis o defeito de quem é revolucionário: a História dá sempre razão)

Traduzindo, eis outra conquista de Abril que está a ser fortemente atacada – recordando ao caro leitor que, apesar de forte defensor do ensino público, universal e gratuito, não posso deixar de defender até certa medida o ensino privado, apenas numa perspectiva que é a seguinte: a defesa do acesso ao Ensino Superior a todos, independentemente (numa primeira abordagem) de este ser conferido por privados ou públicos. O actual (Des)Governo "de entre passos e portas" encontra-se a atacar ferozmente o acesso ao Ensino Superior em Portugal, elitizando-o à semelhança do que se passava no regime ditatorial do Estado Novo.

Pode perguntar-me o caro leitor: então, e nas instituições públicas (ou universidades do Estado), não reprovam? Obviamente que não – imagine-se o Estado a dizer que "o Estado está mal"! Sei que parece ridículo, mas a analogia é 100% verdadeira e correcta... O que se irá passar no ensino público será simples: a actualização progressiva (ou seja, primeiramente a da licenciatura, depois a do mestrado, e por fim a do doutoramento) desses cursos. Tal como, ironicamente, entrou em vigor o Processo de Bolonha.

Caro leitor: dedico este sincero contributo de análise objectiva da realidade nacional a todas as instituições de Ensino Superior do país (públicas e privadas), solidarizando-me com as mesmas na sua luta pela abertura e boa (e correcta) ministração dos cursos. Não esqueçamos que a educação é a arma mais poderosa que podemos usar para mudar o mundo, parafraseando Mandela.

Os valores de Abril foram conquistados, tendo custado muitas vidas. Não deixemos que as portas que Abril abriu sejam encerradas. E reconquistemos os valores que as políticas imperialistas têm vindo a, e querem continuar a, retirar definitivamente aos seus conquistadores, o povo português!
Começando com este “passinho-de-bebé” que me predispus a realizar: expor a verdade que nos ocultam. Pois “quando a verdade for demasiado débil para se defender, terá de passar ao ataque” (Bertold Brecht).

Saudações calorosamente Abrilistas e Revolucionárias!
25 DE ABRIL SEMPRE!


Fernando Barbosa Ribeiro