Caro
leitor, como sabe este espaço de diálogo versa, principalmente, sobre questões
políticas e sociológicas nacionais (e, por vezes, internacionais), focando
igualmente questões jurídicas e económicas. Sempre, obviamente, com um
cheirinho a Abril.
Contudo,
não se pode descurar quaisquer questões ligadas à Cultura. E é nesse contexto
que deixo este sincero contributo. Antes de mais, tenho que confessar ser “suspeito”
neste contributo – correndo o risco de ser parcial – pois há afinidades
pessoais… venho homenagear, já tarde (é certo), os meus padrinhos: os pintores
Mestre José Manuel Soares e Angela Vimonte (pseudónimo de Angela Soares). Não
pretendo, minimamente, descurar qualquer um deles – mas, devido ao assunto em
especial que vou tratar nesta (tentativa de) homenagem, focarei principalmente Mestre
Soares.
Ele
alentejano, ela açoriana. Artistas, permita-me dizê-lo, ímpares. Sendo o
Mestre, nacionalmente (e, tanto quanto sei, internacionalmente), reconhecido
como o maior pormenorista da Arte
portuguesa.
Mestre
Soares pintou praticamente toda a vida, e foi aperfeiçoando – nunca se satisfez
com o melhor que fez… achando sempre que poderia ser melhor. Foi o padrinho que
sempre conheci e conheço. Basta dar um exemplo: um dia, a minha família e os
meus padrinhos, fomos passear um pouco na zona da Casa dos Bicos. O Mestre
possui quadros únicos, retractando, por exemplo, os arcos da muralha – do Campo
das Cebolas, Arco Escuro, entre outros. Contudo, não tendo ficado satisfeito
com um detalhe de uma janelinha existente num dos arcos (cujo quadro data de
1972), e encontrando-se (em 2001 ou 2002) novamente diante desse arco, não fez
mais: puxou de uma esferográfica, pediu um papelinho (foi-lhe dado um
guardanapo, na falta de melhor), “afiou o seu olhar de lince”, e pôs-se a
desenhar única e exclusivamente a janelinha ao mais ínfimo detalhe. Não exagero
se disser que demorou menos de dez minutos a desenhá-la – como um esboço,
naturalmente. E, nessa mesma noite, manifestou o ensejo de pintar novamente
esse arco, desta vez com os detalhes da janelinha.
Infelizmente,
a sua saúde pregou-as, em 2002. Vítima de doença grave, ficou total e
completamente impossibilitado de pintar para o resto da sua vida, desde 08 de
Abril de 2002.
Tão
“pormenorista” sempre foi, que existe a seguinte história, a qual remonta à sua
juventude: pretendia comprar algo (não me recordo o quê), e precisaria de 20
escudos (para quem se lembre, ou quem conheça: uma nota cujo desenho era o
Santo António, acastanhada). Bom, que fazer? Simples (mas sem maldade –
relembro que foi da sua juventude!): desenhou uma! Acredite-se ou não, enganou
o senhor comerciante… mas a história acaba com a devolução do desenho e o pagamento
devido do bem (se não me engano, seria um caramelo…), pelo seu pai. O
comerciante só percebeu que se tratava de um desenho quando lhe foram pagar o
devido e pedir o desenho de volta – quase precisando de uma lupa para conseguir
distinguir…
Mas,
tentando manter a capacidade de síntese e de imparcialidade: há anos que é
manifesto de todos a fundação de um museu para a extensíssima obra do Mestre
(bem como de Angela Vimonte)… ninguém queria aceitar. Idanha-A-Nova (que diz
respeito a Monsanto) foi a inicial maior negociadora, sem sucesso. Mais tarde,
Mêda manifestou interesse – sem sucesso. Agora, está em vista Pinhel.
Esperamos, ansiosamente, o sucesso da negociação. De referir e louvar: no site
da Rádio Clube de Monsanto, existe um micro-site
total e completamente em homenagem a Mestre José Manuel Soares.
E
eis a conclusão do exposto, caro leitor: Portugal, desde sempre (veja-se Camões
e outros tantos Artistas de todas as formas de Arte em Portugal), só soube
valorizar os seus Artistas em situação post-mortem!
Abril também trouxe valores para a defesa e preservação da Arte – há que
defendê-la!!!
Um
desafio que realizo, em nome pessoal: divulgue-se mais e melhor a Arte em
Portugal. Através de eventos, exposições, entre outras situações – mas tendencialmente
gratuitas, senão mesmo total e completamente gratuitas (que seria o ideal). No
caso de Mestre Soares: por iniciativa própria, fez inúmeras exposições em todo
o país com acesso gratuito – isto é, com o simples e puro prazer de receber
admiradores da sua obra. Concretize-se este valor de Abril de uma vez por
todas!
Despeço-me,
caro leitor, com esta, que vem completar e complementar a presente sincera
(tentativa de) homenagem: "O que fazemos por nós próprios morre connosco,
mas o que fazemos pelos outros e pelo mundo permanece. E é imortal" (Albert
Pine). E a Arte é um feito pelo mundo, que merece permanecer e quem a faça
permanecer. Agora, tornemo-la imortal!
Fernando
Barbosa Ribeiro
Post-Scriptum: consulte os seguintes links da
internet, a propósito...
Micro-Site: http://www.pintor.radiomonsanto.pt/
Notícia
mais recente encontrada on-line: http://www.radiomonsanto.pt/detalhe-noticia.php?id=786
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