Este
texto é “pedido emprestado” à minha amiga e camarada Manuela Galhofo (a autora do mesmo), publicado
na rede social Facebook, e que não resisto em partilhar com o caro leitor a propósito das comemorações de algo que também não aconteceu bem como insistem em contar (e mais não digo!) e a propósito da ilegalização constante de Partidos Comunistas no mundo.
No
final, deixo-vos a declamação do poema pelo seu autor.
Fernando
Barbosa Ribeiro
A
BANDEIRA COMUNISTA
[escrito a 17
de Fevereiro de 2011 por Manuela Galhofo no Facebook]
Bandeira
Comunista de José Carlos Ary dos Santos
Um
dos mais conhecidos poemas de Ary e seguramente dos mais queridos dos
militantes do PCP, A Bandeira foi escrito em condições que merecem ser
recordadas.
Na
segunda-feira, 11 de Agosto de 1975 o Centro de Trabalho do PCP em Braga foi
destruído e incendiado após um ataque comandado por um grupo operacional do
ELP, como mais tarde veio a ser revelado por numerosas investigações e
directamente reconhecido por alguns dos membros do comando directamente
envolvidos.
O
«Avante!» enviara no fim-de-semana anterior para Braga um seu colaborador
fotógrafo, uma vez que corriam insistentes boatos de incidentes em Braga na
segunda-feira por (como sucedeu em diversos outros actos terroristas) ser dia de
feira. Tendo resolvido pernoitar no Porto, o repórter chegou a Braga a meio da
manhã verificando então que os provocadores haviam já desencadeado as agressões
e que o Centro de Trabalho (onde se encontravam numerosos militantes) estava já
cercado.
Apedrejamentos
e tentativas de fogo posto sucederam-se ao longo do dia, tendo – de forma
equívoca nunca inteiramente esclarecida – os defensores do Centro acabado por
ser retirados por uma força militar que deixou o edifício entregue aos
fascistas que completamente o destruíram e incendiaram.
Tomado
pelos provocadores como um repórter que lhes era favorável, o fotógrafo do
«Avante!» pôde assim obter ao longo do dia as mais extraordinárias imagens da
violência fascista à solta, muitas das quais foram publicadas na edição
seguinte do «Avante!», a 14 de Agosto.
Para
essa mesma quinta-feira, a Direcção da Organização Regional de Lisboa convocara
para o hoje Pavilhão Carlos Lopes um comício de solidariedade com os camaradas
das organizações atingidas pelo terrorismo e de exigência de medidas de salvaguarda
da ordem democrática.
Na
redacção do «Avante!» decidimos montar num dos átrios do Pavilhão uma exposição
com ampliações das fotos de Braga, de que só uma pequena parte havia sido
publicada no jornal. Feitas as ampliações, colocou-se o problema das legendas –
que acabou a ser um duplo problema...
A
questão era que as imagens tinham uma força tal que qualquer palavra, qualquer
frase parecia estar ali a mais. Contudo...
Lembrámo-nos
então, telefonou-se ao Zé Carlos para a Espiral, agência de publicidade onde
trabalhava, e dissemos-lhe do problema: «Não serias capaz de fazer aí qualquer
coisa, uns versos com força, isto não há legendas que resolvam isto...».
«Esperem lá um bocado que eu já ligo.»
Meia
hora depois o telefone tocava e ouvia-se o vozeirão do outro lado: «Então vejam
lá se esta coisa serve.»
Era
A Bandeira Comunista. Copiada ao telefone, dactilografada e ampliada, iniciou
nessa noite de luta um caminho que não findou jamais.
A
bandeira comunista
"Foi
como se não bastasse
tudo
quanto nos fizeram
como
se não lhes chegasse
todo
o sangue que beberam
como
se o ódio fartasse
apenas
os que sofreram
como
se a luta de classe
não
fosse dos que a moveram.
Foi
como se as mãos partidas
ou
as unhas arrancadas
fossem
outras tantas vidas
outra
vez incendiadas.
À
voz de anticomunista
o
patrão surgiu de novo
e
com a miséria à vista
tentou
dividir o povo.
E
falou à multidão
tal
como estava previsto
usando
sem ter razão
a
falsa ideia de Cristo.
Pois
quando o povo é cristão
também
luta a nosso lado
nós
repartimos o pão
não
temos o pão guardado.
Por
isso quando os burgueses
nos
quiserem destruir
encontram
os portugueses
que
souberam resistir.
E
a cada novo assalto
cada
escalada fascista
subirá
sempre mais alto
a
bandeira comunista."
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