Dei início à presente conversa no Facebook
com a respectiva partilha da notícia em causa.
Não faça caso, caro leitor, aos erros/exageros de pontuação: são totalmente intencionais, uma vez que me encontro pior que escandalizado com a situação que trago a diálogo.
Segundo o Instituto de Avaliação Educativa
(IAVE – ou ex-GAVE), os alunos do 2.º ano do Ensino Básico (ou da antiga 2.ª
classe) apresentam diversas fragilidades no Português e na Matemática, sendo
que tudo resume-se ao diagnóstico seguinte:
- No Português, as dificuldades dizem
respeito à escrita, à gramática e à leitura: na escrita, os principais
problemas centram-se na estruturação do texto e na ortografia; e na leitura,
evidenciam-se dificuldades ao nível da interpretação de textos, e destacam-se
dificuldades de literacia.
«"No teste aplicado em 2014, apenas 39%
dos alunos desenvolveram um texto coerente e somente 38% dos alunos utilizaram
vocabulário adequado na produção do mesmo texto", adianta o relatório.»
- Por seu turno, na Matemática, «o IAVE
destaca a melhoria de resultados em 2014, face a 2013, na resolução de
problemas matemáticos e a dificuldade que os alunos do 2.º ano de escolaridade
têm em compreender o conceito de igualdade, ainda que na comparação dos dois
últimos anos lectivos seja possível assinalar uma melhoria de resultados.»
Dá-se particular importância ao significado dos símbolos de operações
matemáticas, mas – e sublinhe-se! – «Já as dificuldades em tarefas como
contagem de dinheiro, que se agravaram nos quatro anos lectivos em análise,
havendo apenas 68% de respostas totalmente corretas na questão relativa a este
tópico no teste de 2014, levam o IAVE a referir a "necessidade do
desenvolvimento de tarefas específicas que consolidem a aprendizagem destes
temas".»
Quanto aos problemas matemáticos, mantém-se o
mesmíssimo discurso (literalmente, a cassete da Educação): «o IAVE aponta que
as "dificuldades significativas" sentidas pelos alunos na sua
resolução podem ser colmatadas com mais treino, sugerindo a "resolução
sistemática de problemas", de forma a contribuir para a apropriação de
diferentes conceitos matemáticos.»
[Para ler mais pormenorizadamente a notícia,
consulte-se o link seguinte:
Caro leitor, aqui chega a hora de bater na
mesa e gritar “BASTA!” sobre a estupidez do assunto. Deve recordar-se que, no
passado, cheguei a criticar severamente uma medida proposta por um “iluminado”
da des-União Europeia (isto é, um “especialista” – pelo menos foi o que lhe
chamaram), segundo a qual os cavalheiros e cavalheiras estudantes tinham que
conseguir ler um certo número de palavras em segundos… tanto quanto sei, tal
medida não se encontra implementada – corrijam-me se estiver enganado, por
favor!
Contudo, o valor atribuído à interpretação de
textos encontra-se totalmente desprezado! Por conhecimento próprio, posso com
toda a segurança afirmar o seguinte: os professores encontram-se
sobrecarregados programaticamente! Quero eu dizer com isto: os programas do
Ministério da Educação não têm em conta a necessidade de ensinar bem (mesmo que
pouco), dando mais valor ao ensinar muito (e mal). Como se compreende – eis um
dos casos que conheço pessoalmente – que um estudante do agrupamento de
Humanidades (ou seja, o agrupamento que permite seguir todos os cursos ligados
ao genericamente designado por “Letras”, inclusive o Direito) tenha docentes
que não ensinam interpretação como deve ser? Ou seja: a interpretação, por si,
é uma autêntica ciência: exige contextualização histórico-sociológica, implica
tradução de expressões que o leitor não compreenda, entre outras tantas coisas.
Pelo contrário, o programa exigido é tão extenso que o professor é obrigado a
ler o texto em sala de aula, realizar questionários sobre o mesmo, limitar-se a
ser um dicionário de palavras do texto, ser uma enciclopédia que apenas explica
o tipo de texto… e o resto, o aluno que estude em casa – tenha ele recursos
para tal ou não!
Faço directamente a seguinte questão,
meramente exemplificativa do que conheço pessoalmente: como querem que alguém
compreenda um texto de Gil Vicente, de Camões, etc etc, sem explicar – em primeiríssimo
lugar! – em que contexto histórico e sociológico o autor o escreveu, sem
explicar quem foi o próprio autor (dentro daquilo que se sabe sobre ele)… entre
outras coisas??? Como querem que se compreenda Fernando Pessoa e os seus textos
sem explicar as suas ligações ao Sebastianismo (e sem explicar o que é este
palavrão? Senão, repare-se: ao mesmo tempo que Pessoa parece monárquico, outras
vezes percebe-se que é republicano, e outras vezes parece – apesar de ninguém o
negar, e de a linha que separa ambos, neste caso, ser muito ténue – um louco
genial! E repare-se: o Sebastianismo é algo muito maior e mais profundo que o
mero “desejo de regresso de el-Rei D. Sebastião num dia de nevoeiro a montar um
cavalo branco, sobrevivo da batalha de Alcácer Quibir”… e o mesmo não se
confunde com pseudo-“Salvadores da Pátria” – já tivemos um (de péssima memória)
durante mais de 40 anos, e já chegou!!!
E quanto à Matemática? (Apesar de,
pessoalmente, detestar a disciplina escolar, e de ser formado em Direito, não
posso deixar de me importar e de pensar sobre o assunto)
Uma proposta sincera – porém pobre/humilde:
um investimento em jogos efectivamente educativos virados para a Matemática.
Porquê a minha proposta, que é estranha? Porque, por exemplo para a questão de
contagem de dinheiro, pode ser um bom remédio para curar a doença: aprendi a
contar dinheiro – à época, ainda era o escudo, e ainda estavam em processo de
serem retiradas as moedas de 1$00 e de 2$50 (um escudo, e dois escudos e
cinquenta centavos) – com um “jogo de tabuleiro” que nada tinha a ver com o
«Monopólio»… era um jogo de fazer compras, de ser merceeiro e/ou cliente de
merceeiro!!! Em que consistia o jogo: jogava-se a pares, por exemplo; um era o
merceeiro, o outro era o cliente; jogávamos com réplicas quase-exactas (mas em
cartão) de dinheiro (só as moedas); e tínhamos que vender os nossos legumes
(outros cartões) e demais produtos por um valor (em moedas de escudo).
Resultado: além de ensinar a contar dinheiro (se bem que somente as moedas),
ensinava o valor desse dinheiro, e dos «bens essenciais» (ou seja, do leite,
das leguminosas, das hortaliças, etc)! Hoje, não conheço jogo semelhante –
novamente, corrijam-me, por favor, se estiver enganado!
E quanto às notas?, pergunta-me o leitor. Por
associação e por ajuda dos pais, foi a minha experiência: uma nota de mil
escudos era igual a dez moedas de 100$00, ou a cinco moedas de 200$00, por
exemplo. Ou seja, com SEIS (6) ANOS já sabia, se quisesse, ir às compras, fazer
contas de somar de cabeça, comprar produtos e dar o dinheiro respectivo, sem
deixar que me enganassem…
Obviamente, sou suspeito: filho e neto de
professores e de inspectores de ensino… mas sou da sincera opinião que tal não
tem significado especial. Ou seja, que pais de condições mais humildes podem (e
devem!) conseguir dar o mesmo aos seus filhos. Mais que não seja, ensine-se
como nas leis da selva: “se não tens a moeda de 100$00, não podes chupar um
caramelo que custa 100$00”… Uma pessoa de origens bem mais humildes – o pintor
a quem dou tanto protagonismo neste espaço de diálogo, que é meu padrinho – sabia
bem o valor do dinheiro, e não precisou do jogo que eu joguei, nem nunca o
teve! (no seu caso, teve a “lei da selva”… um saquinho de caramelos custava uma
nota de 20$00 – com o Santo António desenhado – e ele nem isso tinha, logo… o
resto da história fica por contar, mas a conclusão óbvia seria o não poder
comer os caramelos). Antes dos professores e inspectores, na minha família,
houve merceeiros e fome… e sabiam contar o dinheiro e dar o devido valor ao
mesmo!... – às tantas, dou razão à minha brincadeira: como detesto o Euro, não
só pelo seu significado (perda de independência nacional económico-monetária),
digo sempre que esta moeda “é uma porcaria”… bom, está visto que é uma porcaria
tamanha ao ponto de nem para aprender a contar e a dar-lhe valor serve!!! Com o
Escudo, aprendíamos bem e depressa!!!
Para outras operações matemáticas… eu aludi a
uma cassete. Também a ouvi inúmeras vezes – sempre fui mau aluno a Matemática…
só no 12.º ano, por outros caminhos, comecei a perceber, na minha pele, qual é
o defeito: falta explicar os porquês!!! Porque é que “5+5=10”??? (aliás,
recentemente surgiu uma tese engraçadíssima, que, salvo erro, tem a ver com o “facto”
seguinte: «2+2 ≠ 4», o que gera muita confusão à primeira vista… mais antiga,
uma outra teoria curiosíssima surgiu – e nesta, tenho a certeza que estou a
designar bem: «2+2=5», também geradora de confusão à primeira vista…) Isto tudo
leva à seguinte afirmação: o Ministério da Educação não quer que se perceba de
Matemática, mas sim que sejamos robots para fazer, automaticamente e sem
saber/querer saber o porquê, exercícios!!!!!!!!!
Qual é a origem do 0? Qual a explicação do
Teorema de Pitágoras? Porque se diz que um ângulo recto mede, exactamente, 90º?
Porque é que a fórmula da área de um trapézio é como é? Qual a explicação do π
(“pi”)? O que é uma proporção, uma equação, uma estatística…? De onde surgiu o
seno, o co-seno, a tangente…???
Em suma: falta tempo para ensinar as bases!!!
No meu tempo – década de 90 do século XX – tudo começava, em regra, no 4.º ano
(ou antiga 4.ª classe), com o aprender a dividir com um número com mais que um
dígito no divisor… por exemplo, “10:22” – o “22” era a dor de cabeça. A
propósito: o que acontece ao valor “resto” numa divisão? Para que serve? Alguém
ainda sabe fazer uma “Prova dos Nove”??? Sou sincero: não sei responder a cerca
de 95% das perguntas que aqui coloquei, nem nunca aprendi tais assuntos!!! Se
sei o motivo do Teorema de Pitágoras (e sei-o!), por exemplo, foi graças a dois
factores: tem quem me explicasse tal fora da escola e das aulas e que não era
nem nunca foi meu professor de Matemática, e o meu enorme interesse e fascínio
por Egiptologia! Ou seja, se não se sabe as bases e as teorias, como se quer
que se consiga saber/aprender as práticas?????
Resumindo: o Ministério da des-Educação insiste
na exigência de saber tudo sem perceber nada – o que leva à ignorância total.
Já Lenin escreveu sobre isso: a teoria sem a prática de nada vale, a prática
sem a teoria é cega.
Termino com esta pergunta para o meu caro
leitor – e deixo a sua resposta para si, sendo a minha já bem conhecida: não
está na hora de reafirmar e fazer reafirmar-se os valores de Abril?
Fernando Barbosa Ribeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário