Ouvi e li muitos a protestarem contra a pintura realizada pela CDU no local em apreço, inclusive a citar legislação. Pergunto-me quem é o “brilhante” jurista que se lembrou de a citar, pois citou-a para nada. Passo a explicar: existe, efectivamente, uma lei respeitante à pintura de murais e colocação de cartazes, que cito em seguida. Segundo o número 4 do artigo 66º da Lei 14/79 de 16 de Maio, "Não é permitida a afixação de cartazes nem a realização de inscrições ou pinturas murais em monumentos nacionais, nos edifícios religiosos, nos edifícios sede de órgãos de soberania, de regiões autónomas ou do poder local, nos sinais de trânsito ou placas de sinalização rodoviária, no interior de quaisquer repartições ou edifícios públicos ou franqueados ao público, incluindo os estabelecimentos comerciais”. Após uma profunda análise, agora não jurídica, pergunto-me com franqueza em qual das situações se enquadram as escadas monumentais! Agora sim, não é um problema de interpretação da norma (que cabe ser realizada pelos juristas): é um problema de falta de cultura profunda e grave.
Penso que é pacífico – nunca estudei em Coimbra, mas desde há poucos anos que faço por visitá-la anualmente, não só pela paixão que nasceu em torno da cidade e (principalmente) do Mondego – que as escadas monumentais são como que um símbolo importante para os estudantes, e na minha sincera opinião não é apenas para estes. Ainda recordo com saudade o dia em que também a subi para visitar a Universidade de Coimbra (não só como turista mas também para conhecer aquela que foi a segunda escolha que fiz na candidatura a universidades públicas do país assim que completei o 12º ano de escolaridade), e lembro-me de ter reprovado toda a população da cidade por certos odores (que não eram de tinta!) que ali senti. Apesar disso tudo, e do nome popularmente (e tão somente a nível popular) atribuído, as escadas monumentais nunca foram nem são monumento em stricto sensu. Agora lamento é a falta de cultura histórico-geográfica da população de Coimbra – perdoem-me a frontalidade, que é merecida: abriram a boca e saiu asneira. E da grossa!
Além do exposto, é com profunda mágoa que confirmo, mais uma vez, a memória curta dos portugueses. A DG/AAC (Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra), em campanhas políticas estudantis (que não são menos importantes nem, em nada, diferentes das campanhas políticas “normais”), igualmente pintou as escadas monumentais – e não só, como podem ver nas imagens que pesquisei através do site Google e que aqui partilho a seguir. E essas realizaram-se há muito poucos anos. Mais: em quantas campanhas da JSD e JS já colocaram caminhos de placards e faixas, que obrigavam os estudantes (e outros transeuntes) a desviarem-se? Mas como é uma pintura que não afecta a mobilidade de ninguém, e da CDU, já há um gravíssimo problema… minha santa paciência! Tais protestos contra a CDU mereceram, inclusive, tempo de antena (e quiçá páginas de jornais…) nos media… que receberam todos os outros prevaricadores? Os que por lá urinam constantemente, os que deixam as escadas monumentais totalmente nojentas com vómitos e cervejas entornadas, ou as campanhas políticas, estudantis ou não, cometeram delitos que afectaram e afectam a população de Coimbra… mas a pintura da CDU, que não afecta ninguém, já foi um “acto de vandalismo”… Portugal, que rumo segues tu? Onde irás parar?
Resumindo e concluindo, caro leitor: sei que serei alvo de inúmeras críticas (principalmente dos hipócritas e dos sectários, mas não só…) por defender o acto da CDU, e por reprovar viva e indignadamente os restantes actos praticados pelos demais. Mas como afirmei na introdução deste sincero contributo: no meu tempo, a opinião era livre.
O que Portugal está a praticar neste momento não é Democracia nem Justiça. Se assim fosse, teria havido protestos bem fortes a muitos, tal como enunciei acima. Estamos perante puras hipocrisia, sectarismo, discriminação, branqueamento, ocultação da verdade (isto é, mentira), desonestidade, pseudo-democracia e injustiça, quanto à atenção dada agora e que nunca foi dada anteriormente.
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