O
caro leitor já deve interrogar-se quanto à minha formação e/ou profissão, uma
vez que – ultimamente – o cerne das questões por mim levantadas tem sido,
reiteradamente, o estado da (Des)Educação em Portugal. Ao mesmo tempo, quase de
certeza que me considera “mais um «tudólogo»”, uma vez que falo um pouco sobre
quase tudo…
Quanto
à segunda questão, sublinhe-se o “quase”: só falo dos assuntos sobre os quais
tenho contacto mais ou menos directo – seja analisando a prática através de
familiares e/ou amigos, seja através das actividades políticas que tento
desenvolver. Logo, se quiserem denominar-me algo, teria de ser “conheçólogo”,
pois só falo do que conheço – o que não tenho é a culpa de conhecer tanta coisa,
bem como de me interessar por tanta coisa!...
Já
a primeira questão: tenho muita família ligada aos mais diversos cargos na área
da Educação, e com as mais diversas patentes – desde educadores a professores,
de inspectores de ensino a condecorados por realização de grandes (valorosos e
valiosos) feitos na Educação em Portugal. E sempre tive uma relação muito
próxima com essa família… além de ter, desde tenríssima idade, contacto com a
sua prática profissional. Por fim, fui explicador de Português para amigos
durante alguns anos.
O
presente contributo é, portanto, direccionado para a Educação. Foi hoje
notícia, em vários meios (no final, poderá consultar as notícias através dos
links partilhados), que as retenções (leia-se: chumbos) dos alunos no ensino
básico devem-se aos exames. O leitor riu-se? Eu não: chorei. É oficial a
progressiva deseducação nacional!
Comecei
por comentar no Facebook – por impulsividade – e continuo aqui. Eis a minha
análise, com base na experiência que possuo e a qual explicitei supra:
1)
Quem
são os alunos?
O
facto de o agregado familiar (por regra, os pais) possuir um nível de
escolaridade baixo pode (e sublinhe-se o “pode”) influenciar o (in)sucesso do
aluno: a ajudar a estudar, a tirar dúvidas sobre a matéria. Ao mesmo tempo, a
própria ausência desse agregado (por motivos profissionais), pois de nada vale
ser doutorado se não está em casa ao lado do filho para tirar-lhe a(s)
dúvida(s).
Quando
será que os pais vão perceber – bem como o (Des)Governo português – que eles
são os principais e mais importantes AUXILIARES da sua função? Diz-se que “a
educação começa em casa”… não é apenas válido para as boas maneiras, ou o bom
comportamento: é também para a aprendizagem das mais diversas áreas/disciplinas!
E felizes aqueles que ainda possam contar com avós, ou tios, ou outro qualquer
familiar… sendo obrigatório, nesse caso, o regresso à análise da escolaridade
dos mesmos.
E
há motivos de (mínima que seja) perturbação psicológica? Ou seja, por exemplo:
pais divorciados, ou órfão (de algum ou de ambos os progenitores)? Tudo isto
influencia directamente. E não é somente ao professor que cabe adequar o ensino
àquele caso: reitero, o agregado familiar é o principal, basilar, fundamental,
auxiliar do professor.
E
incentiva-se o estudo? É visível, aos magotes, a existência de pais que exigem
que o aluno não trabalhe e/ou não estude – exactamente no momento e na idade em
que são ESPONJAS sedentas de conhecimento e cultura. Repito até me cansar: se o
professor trabalha num sentido, e os pais/agregado familiar COMBATEM esse
trabalho, então será infrutífero todo e qualquer esforço do professor… e quem
as paga é o aluno!!!
2)
Quem
são os professores?
Nesta
questão, como perceberá agora o caro leitor, não há virgens para ninguém, e
muito menos tolero viúvas virgens.
Existem
professores que se formaram em "escolas" (Escolas Superiores de
Educação, Faculdades, Universidades, Institutos Politécnicos, e mais que exista)
onde a realidade prática (através de estágios, ou de iniciação à prática
pedagógica...) ficou praticamente desconhecida. Há outros que se formaram com
um estágio microscópico. E – aves raríssimas (em vias de extinção?) – há professores
que tiveram pelo menos um mês de estágio todos os anos do seu curso (seja ele
de quantos anos for).
Porquê
tal disparidade? Sou sincero: desconheço por completo.
Haverá
falta de uma norma harmonizadora? (ou seja, haverá total liberdade para o
estabelecimento desse tempo?) Haverá falta de acordos com as escolas para a
colocação dos futuros professores em formação de estágio? Haverá falta de
patronos para os estágios (isto é, de quem vigie, acompanhe, e avalie, o
estágio)?
No
tempo da Escola do Magistério Primário de Lisboa, o rigor da formação dos
futuros professores era extremamente duro: exames atrás de exames, estágios
atrás de estágios (em escolas que, penso eu e aqueles que me informaram de tal,
faziam mesmo parte daquela Escola), Exame de Estado… em suma, e para quem ainda
sabe o seu significado: conseguir ser-se bacharel já era motivo de festa! Com o
Processo de Bolonha… enfim, o mesmo que para todos os cursos: o desastre total.
Antigamente
existia o inspector de ensino… que colocava todos em sentido. Uns eram
rigorosos e sérios, outros não. No primeiro caso, arruinavam os maus
professores e possibilitavam a “glorificação” dos bons professores – tanto que
os inspectores, por regra pelo menos, eram ex-professores convidados/promovidos
para o cargo.
E
a formação para as necessidades educativas especiais? Citando quem é nacional e
oficialmente especialista no assunto, “hoje é tudo disléxico!”, quando muitas
vezes o problema foi a metodologia pedagógica – há metodologias e metodologias…
umas mais correctas que outras, outras mitigadas (isto é, mistura de características
de duas ou mais metodologias), e outras anti-pedagógicas!
Mas
para os casos reais de necessidades educativas especiais: onde há formação
prática dos profissionais? Conhecem-se os estágios para os mais diversos graus
de ensino… e para esta área? Desconheço a sua existência – só conheço os
voluntariados, como é o caso da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC).
Por
fim, e não menos importante: há vocações, ou seja: há professores que não têm
vocação e/ou que não se formaram para o ser… mas são-no para não estarem no
desemprego, como alguns quantos engenheiros e formados em Direito (isto é mais
visível nos 2.º e 3.º ciclos e ensino secundário). Não devia existir uma
formação para a docência nestes casos – e obrigatória?
3)
Que
raio de programa faz o Ministério da (Des)Educação - que é de cumprimento
obrigatório?
Os
programas do Ministério são vergonhosos, para não dizer inexequíveis! Não têm
em conta o tempo, a capacidade de aprender dos alunos, a capacidade de ensinar
dos docentes, entre outras tantas coisas! Um exemplo muito simples: já é
obrigatório sair do 1.º ciclo (antigo Ensino Primário) a dominar perfeitamente
as equações e as fracções (a nível da Matemática), matérias que só eram
ensinadas no 2.º ciclo (antigo Ensino Preparatório)!
O
encerramento de escolas é pura e simplesmente criminoso. Já o tenho dito, e
continuo a dizer – portanto, não re-chateio o caro leitor com os detalhes.
A
avaliação dos professores não é a correcta (nem em método, nem em forma)... seria-o
a inspecção? Será o exame mas de outra forma e de outro método – uma vez que
recorre-se ao exame, por exemplo, para o acesso à profissão de advogado, logo
também poderia criar-se um para o professor?
Quanto
à sua avaliação em diversas fases do exercício da sua profissão: considero
ridículo quanto à forma. Antigamente, os professores eram obrigados a frequentar
periodicamente – gratuitamente – formações de actualização promovidas pelo
Ministério… e nem por isso eram maus professores! A existir avaliação formal,
sugiro que se faça da seguinte forma: regressem as formações – que considero
essenciais para preservar a actualização das matérias ensinadas – e gratuitas!,
e no final avalie-se a aquisição de conhecimentos dessas formações, também
gratuitamente como é óbvio.
OS
PROFESSORES NÃO TÊM CULPA DE O SEREM! Nem têm culpa de não existir uma “ordem
dos professores”, e de existir um Ministério incompetente!
Por
fim, e referindo-me notícia em vídeo: a lotação das salas de aula… para o
docente, poderia ser (mas não é!) indiferente ensinar para 20 ou para 40 a
mesma coisa ao mesmo tempo e na mesma sala… mas para o aluno, posso garantir
por experiência pessoal, nunca é! O professor tem de transformar-se num polvo
autêntico para conseguir tirar as dúvidas de todos os alunos, ensinar o que o
(maldito) programa exige que se ensine, submeter os alunos à avaliação,
etcetera etcetera!!! Seria um bom desafio: a colocação de um professor
competente (mas sem ser do Ensino Superior – para isso, já temos um!) no lugar
de Ministro da Educação – um que saiba como e o que é “o campo de batalha”…
E
muitos mais defeitos provenientes do ME ficam por dizer!
Resumindo
e concluindo: o mal não está nos exames!... E muito menos nos “chumbos”,
exceptuando talvez para as contas públicas (conforme notícia).
Caro
leitor: a universalização do acesso à Educação além da 4.ª classe (actual 4.º
ano) foi uma importantíssima conquista de Abril. E esta está a ser assassinada!
A
quem julga que cabe defendê-lo e/ou reconquistá-lo?
Fernando
Barbosa Ribeiro
NOTÍCIAS
(LINKS):
Sem comentários:
Enviar um comentário